NÃO SEI FLERTAR
Flertar, meus amigos, é uma arte.
E eu, claramente, não domino.
Tem gente que nasceu com lábia. Com carisma. Com molho.
Eu nasci com vergonha alheia auto aplicada.
Outro dia, um cara me abordou no aeroporto. Forte. Bonito. Barba de propaganda da Natura. Sentou do meu lado e comentou:
- Esse voo sempre atrasa, né?
Ele nem tinha terminado de falar e eu já estava me imaginando com trilha sonora, câmera lenta, beijo no portão de embarque e um roteiro de cinema. Me concentrei pra responder com charme, sutileza, inteligência. E soltei:
- Pois é. Tá pior que a minha menstruação.
Pior. Que. A. Minha. Menstruação.
Não é possível. Por que eu sou assim? A minha linguagem do amor só pode ser o desastre.
Ele riu. Educado.
Eu ri também. Desesperada.
Engasguei com a própria água. Tossi com a elegância de um trator engatando a ré. Tentei compensar:
- Eu gosto dessa sala. O banheiro é limpo.
Sim. É isso mesmo. Banheiro. Meu cérebro decidiu que o caminho da sedução passava pelo saneamento básico.
Lembrei da época de escola. Acho que tudo começou lá. Eu não aprendi a arte. Flertar era simples demais.
A gente escrevia bilhete no caderno:
“Você quer ficar comigo? [ ] Sim [ ] Não [ ] Talvez”
E pronto. Romance resolvido entre a aula de matemática e a merenda. Tinha um sistema, uma lógica. Um protocolo emocional. Nada de drama. Nada de joguinho.
O problema é que ninguém — absolutamente ninguém — me ensinou a transição. A ponte entre o “quer ficar comigo [x]?” e o “vamos subir pra tomar um vinho?”
Não teve aula.
Não teve cartilha.
Não teve tutorial no YouTube.
Um dia você tá com a mochila do Bob Esponja, entregando bilhetinho com a mão suada.
No outro, você tem que aprender a sorrir sem parecer carente. A sentir sem ser emocionada. É a versão diet do afeto. Zero caloria e zero graça.
Eu e o homem da Natura continuamos conversando até a hora do embarque. Ou melhor: ele tentou. Eu falei do trânsito, da umidade relativa do ar e — Deus me perdoe — do valor nutricional do bolinho de banana.
Perdi o gato, mas ganhei pontos com a minha nutricionista imaginária.
Até já me disseram pra ser mais confiante. Que homem gosta de mulher segura. Mas eu sou segura, sim. Segura de que vou falar alguma abobrinha.
No fundo, eu queria mesmo era a volta do bilhete. Um sim com canetinha colorida. Um talvez misterioso. Até um “não” rabiscado com corretivo era melhor do que esse recreio infinito de humilhação que é a vida adulta.
E o pior: Pra quem não gosta de dividir o bolinho de banana, é quase impossível encontrar merenda.
Eu assino embaixo pela volta do bilhetinho, embora prefira usar mochila do Batman 🦇
Às vezes a gente só quer dar uns pegas em alguém sem necessidade de burocracia 🫠🫠🫠
Movimento pela volta da simplicidade na paquera. Pq flertar é muito adulto pra ser tão bom quanto paquerar